A obra Todo mundo sabe dançar se apresenta como o resultado prático final do processo de pesquisa desenvolvido durante o doutorado, buscando explorar ferramentas tecnológicas que possibilitem uma maior conexão entre espaço, corpo, comportamento, imagem e dispositivos técnicos, além de buscar estratégias que propiciem improvisações, interlocuções e relações entre as pessoas que se encontram em seu espaço de recepção.
Todo mundo sabe dançar - Exposição from Fernanda Gomes on Vimeo.
Exposta dentro de uma caixa na
Praça da Estação, Belo Horizonte, Todo
mundo sabe dançar é uma instalação interativa que
estimula a dança e a formação de uma rede de improvisações e relações. A obra oferece uma seleção
estimulante de músicas e cada participante pode escolher a que mais lhe agrada
através de seus movimentos. A imagem do participante da obra é projetada em
simultâneo, espelhada à sua frente. Junto à sua imagem, surgem imagens
projetadas de outras pessoas dançando que interagem com o participante a partir
de seu posicionamento e de seus movimentos. No momento em que começa a dançar,
este participante se transforma em um espectador
performer.
O sistema dispositivo permite um rastreamento de posições e gestos, o que possibilita uma composição em tempo real da imagem dos espectadores performers com as imagens gravadas de outras pessoas dançando. Isso é possível devido a uma programação prévia, que conta com um banco de imagens composto por vários movimentos de dança. Do lado de fora da caixa, há uma tela de televisão que exibe as danças dos espectadores performers que participaram da experiência. Ou seja, ao sair da caixa, eles serão espectadores de si mesmos, podendo conferir novamente suas danças. Isso possibilita que as pessoas possam se assistir de duas maneiras distintas: em tempo real e logo após a experiência, formando uma espécie de coreografia com outras pessoas. Possibilita também que logo após a experiência o participante interaja com as pessoas do lado de fora.
Durante os quatro dias em que foi exposta na Praça da Estação, a instalação se transformou em uma pista de dança reconfigurada de diversas formas, a partir das características dos espectadores performers que a ocupavam temporariamente. Pessoas que não se conheciam formavam rodinhas de dança, conscientemente construindo cenas, enquanto observavam suas próprias imagens em composição com as imagens tanto dos que estavam ali presentes, quanto dos que foram gravados previamente. Bem na linha da partilha do sensível proposta por Rancière (2005), que identifica essa distribuição de ações singulares dentro das formações de coletividades.
O sistema dispositivo desenvolvido para a obra, enquanto um sistema heterogêneo que leva à reconfiguração e criação de dinâmicas próprias, estabelece-se como um elemento estratégico, a partir da sua inserção em determinado contexto, seja ele artístico, social ou midiático. Assim como Rancière (2005) havia assinalado, novas figuras do sentir, do fazer e do pensar, assim como novas relações e novas formas de visibilidades dessas rearticulações são demandadas e engendram novas formas de subjetivação, ou seja, de se construir e de se expor nos espaços. Podemos também retomar a relação que De Certeau (2009) faz entre a inventividade incessante presente na experiência prática e algumas produções artísticas, que privilegiam a capacidade do ser humano de fazer um conjunto novo a partir de um padrão preexistente. A inserção do indivíduo comum na cena da história ou nas novas imagens institui a lógica estética de um modo de visibilidade que substitui a grandeza da tradição representativa por um foco nos corpos, nos homens e nas sociedades.
Em uma perspectiva relacional, as interações que se dão por meio de dispositivos são vistas como processos de influências mútuas que os participantes exercem uns sobre os outros na troca comunicativa e também como “(...) o lugar em que se exerce esse jogo de ações e reações” (MAINGUENEAU, 2004, p. 281). A interlocução, por sua vez, é retomada aqui para evidenciar como os parceiros se acham mutuamente implicados nas produções artísticas e midiáticas. É um círculo contido no relacional. Processos interativos vão ao encontro do jogo de reconhecimento recíproco do cotidiano e à produção de interpretações, construção de modelos mentais, paradigmas, perspectivas, crenças e pontos de vistas constituídos de elementos cognitivos.




Nenhum comentário:
Postar um comentário